Sonho materno leva mulheres a usar SUS e projetos por fertilização acessível
- By : Assessoria de Comunicação do Deputado Gonzaga Patriota
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Após sete anos de tentativas de engravidar e um aborto espontâneo em 2012, a médica veterinária Andressa Oliveira Rodrigues Martins, 38, finalmente conseguiu realizar o sonho de ser mãe. A sua ginecologista de confiança indicou que ela procurasse atendimento de fertilização in vitro pelo SUS (Sistema Único de Saúde), algo que Andressa nem imaginava que era possível diante dos altos valores cobrados na rede particular.
Andressa tinha obstrução nas trompas e só esse procedimento em laboratório faria o desejo de ela gerar uma criança se tornar realidade. “Cada consulta que eu ia antes de descobrir isso me custava R$ 600, R$ 800. Pelo que pesquisei, era no mínimo R$ 35 mil uma tentativa nas clínicas”, revela.
Ao procurar uma UBS (Unidade Básica de Saúde), ficou sabendo que a espera pelo Sistema Único de Saúde poderia ser de dois, três anos. Mas a sorte estava com ela. “Por obra divina, em um mês marcaram minha consulta. Passei com o chefe de reprodução humana e ele me aprovou para o sistema. Fiz exames, tudo, não gastei R$ 1”, lembra.
Nos casos desse tipo de tratamento, a idade da mulher é um fator fundamental, já que com o passar dos anos a qualidade dos óvulos tem declínio considerável e as chances de engravidar são reduzidas.
Em 2016, Andressa conseguiu a fertilização, e sua filha, Helena, hoje com cinco anos, nasceu no final daquele ano. “A maternidade deixa a mulher plena. É a coisa mais maravilhosa do mundo. Até a fertilização me deixou mais forte, é difícil, nos três primeiros meses eu sangrei o tempo todo, mas olhando para trás me sinto uma vencedora”, diz a veterinária.
Andressa fez o procedimento no SUS de São Paulo, no Hospital das Clínicas. De acordo com o governo federal, cada gestão é responsável por regras e tramites para o sistema de fertilização in vitro gratuita. É preciso procurar em cada localidade para saber mais detalhes (veja mais abaixo).
Mas há outras possibilidades de participar de um programa de reprodução humana pagando menos dinheiro. Um exemplo é o projeto criado pela empresária Claudia Migliaccio, 47, de nome Acabei de Descobrir. Tentante, ela descobriu sua infertilidade aos 39 anos e assim reuniu muitas mulheres com o mesmo sonho para conseguir negociar descontos com especialistas em reprodução humana.
Em 2016, o número de pessoas começou a subir muito e foi então que veio a ideia de criar um aplicativo de mesmo nome que fornece vouchers de desconto para mulheres. Qualquer pessoa pode participar independentemente da renda que tenha. “Vida da tentante é complicada. Tem a questão financeira, pois é sempre caro. A parte emocional fica fragilizada. Custa para a gente o dinheiro e a emoção”, afirma Claudia.
Ela juntou as mais de 200 mulheres naquele início que participavam da comunidade, elegeu um perfil adequado e começou a pesquisar especialistas para parcerias. Foi então que criou uma rede de profissionais que hoje estão disponíveis no aplicativo e que fornecem descontos que podem chegar a 40%.
“Hoje somos uma rede com mais de 10.000 meninas e meu trabalho está mais voltado em conversar e em dar apoio a elas. A pessoa busca o médico mais próximo de onde mora e pode fazer cupons de procedimentos na mesma hora”, explica Claudia, que não conseguiu engravidar, mas adotou um casal na Costa Rica.
O médico escolhido de São Paulo é o ginecologista e obstetra Ricardo Luba, com 18 anos de experiência nesse ramo. Ele explica mais sobre como é essa parceria. “O desconto da minha parte é bastante significativo. Quem tem menos de R$ 10 mil e consegue apresentar documentação que comprove pode pagar R$ 2.800 em vez de R$ 8.500 de honorários médicos, por exemplo. Laboratório sai mais ou menos R$ 5.000 e não R$ 7.000”, explica.
A publicitária e vendedora Fabiana Aparecida Rossetto, 46, é uma das futuras mamães que procurou pelo projeto. Ela engravidou naturalmente nos anos de 2016, 2017, 2018 e 2019, mas perdeu os bebês em todas as gestações. Em 2020, buscou ajuda pelo Acabei de Descobrir e conseguiu engravidar em maio deste ano.
“Estou com 22 semanas e o nome dele será Mateus, que significa presente de Deus”, diz ela toda orgulhosa. A fé foi seu maior aliado nos momentos em que tinha as perdas. Ela sabia que um dia realizaria seu maior sonho. “Sou perseverante mesmo. Sentia dentro de mim que seria mãe e isso foi me dando força. Não é fácil. A primeira perda foi no mesmo ano da morte trágica da minha sogra em um acidente horrível. Mas deu certo. Minha vida estava incompleta sem ser mãe”, diz.
A dona de casa Raiane Linhares Duarte, 28, também conseguiu um gestação, hoje de 11 semanas, com o auxílio dos vouchers do projeto Acabei de Descobrir. No caso dela, era seu marido quem tinha algumas condições desfavoráveis apesar de sua baixa reserva de óvulos. Ela já tem um filho de nove anos.
“O preço da fertilização foi acessível, só gastei mais com medicação mesmo. Foi um mix de emoções. Fiz surpresa a todos. Já ouvi o coraçãozinho duas vezes. O sexo ainda não sabemos”, finaliza.
ESPECIALISTA DÁ DICAS E FALA DOS CUIDADOS
Numa gestação, o tempo é o principal fator para obter sucesso, assim como a idade da tentante. De acordo com Julio Voget, ginecologista especializado em reprodução humana há 15 anos, mulheres com menos de 35 anos e com ciclos menstruais regulares deveriam conseguir engravidar naturalmente em até 12 meses. O tempo de tentativa a mulheres com mais de 36 anos deve ser de até seis meses.
Caso a gravidez de forma natural não apareça nesse tempo, chegou a hora de procurar ajuda. “Após as tentativas, é preciso procurar um médico que receitará exames para descobrir se há algum fator como baixa quantidade de óvulos, morfologia e mobilidade dos espermatozoides ou alguma obstrução nas trompas. Nesse último caso, o mais recomendado será a fertilização”, afirma.
Muitas mulheres não sabem, mas podem ter uma quantidade de óvulos menor para a idade e isso dificulta o tempo para engravidar. Os homens também necessitam fazer um exame de espermograma para saber a condição do sêmen. Com tudo isso em mãos que o especialista traçará a estratégia para cada caso.
Fora isso, o especialista alerta para que pessoas tenham ênfase na qualidade de vida. Por vezes, ter uma vida saudável com prática de exercícios e alimentação correta ajuda a conseguir engravidar.
Mas caso a opção tenha de ser a fertilização, Voget conta que do início dos exames até o momento da transferência para o corpo da mulher pode ser de quatro a cinco meses dependendo da evolução dos processos.
“A gente está junto e nosso foco é a fertilização humanizada. Qualquer palavra e afeto faz diferença para o casal. Muita gente pode não conseguir na primeira tentativa, o caminho pode ser mais longo, mas o casal precisa saber a realidade, manter as esperanças. Precisam se sentir acolhidos”, conclui.
Fonte: Folha-PE