Entregadores por aplicativo têm mais trabalho e ganham menos dinheiro na pandemia, diz pesquisa
- By : Assessoria de Comunicação do Deputado Gonzaga Patriota
- Category : Clipping
Em virtude da pandemia do novo coronavírus, muita gente tem procurado o serviço de delivery de produtos. Com isso, aumentou o número de entregas e de profissionais nas ruas do país. No entanto, uma pesquisa feita com 300 trabalhadores constatou que, mesmo com a maior demanda pelo serviço, os entregadores por aplicativo passaram a ganhar menos, devido aos cortes em incentivos e bônus, além de ficar mais expostos à doença.
O estudo foi feito pela revista jurídica Trabalho e Desenvolvimento Humano. Ele ouviu entregadores de aplicativos em 29 cidades brasileiras, incluindo o Recife.
Os profissionais disseram que, antes da chegada do coronavírus, já trabalhavam várias horas por dia e que a jornada puxada foi mantida durante a pandemia. No entanto, a maioria passou a fazer entregas em todos os dias da semana. No Recife, assim como outras cidades do país, houve, na quarta (1º), um protesto da categoria por melhores condições de trabalho.
Cícero trabalha há quase dois anos como entregador de aplicativos. É a única fonte de renda dele e, por isso, ele não economiza nas pedaladas diárias.
“Antes dessa pandemia eu chegava a rodar de 35 a 40 quilômetros, dependendo do dia, se tinha alta demanda de pedidos ou não. Agora, eu estou rodando de 65 a 70 quilômetros, já cheguei até a 80, num dia de domingo e alta demanda. Mas não estou ganhando mais”, afirmou.
Ao todo, 54,1% dos entrevistados disseram que, antes da pandemia, trabalhavam entre 9 e 14 horas diárias. Por causa das medidas de isolamento social, 19,3% deles disseram que têm ficado no serviço entre 11 e 12 horas e 51,9% estão atuando sete dias da semana.
Luiz Carlos perdeu o emprego durante a pandemia e recorreu às entregas pra não ficar parado. Ele disse que roda da manhã até a madrugada para ganhar R$ 40 por dia. “Meu incentivo é minha filha, Maria Luiza, que nasceu há pouco”, afirmou.
A pesquisa também constatou que 96% dos trabalhadores tiram dinheiro do próprio bolso para comprar equipamentos de proteção individual. Além disso, 57,7% deles disseram que não receberam nenhum tipo de apoio das empresas de delivery para diminuir os riscos de contaminação.
André Oliveira comprou uma máscara de proteção do time do coração, o Flamengo, e álcool em gel a 70% para se proteger. “Algumas empresas dão materiais, como álcool em gel e máscara, mas não é o suficiente. Eu tenho essa máscara e outra na bolsa, porque não é suficiente, tem que ficar revezando. Além disso, o álcool em gel que elas dão é pouco, a gente precisava de um suporte a mais, já que trabalhamos com o público”, disse.
O medo de pegar o novo coronavírus durante as entregas foi citado por 83% dos entrevistados na pesquisa, um dado que revela a tensão no trabalho, como disse Relrisson Rodrigues. “Já aconteceu comigo de estar no meio de uma entrega e o porteiro se recusar a receber e eu ter que subir na casa de uma pessoa, quando ele mesmo falou que estava contaminado. Quando cheguei à porta, ele mesmo que me recepcionou. É complicado”, afirmou.
Para os entregadores, a pandemia tem significado mais trabalho, mas também mais riscos. Já para os aplicativos, está sendo uma época lucrativa. O estudo indicou que as entregas aumentaram cerca de 30% em toda a América Latina.
A procuradora do Ministério Público do Trabalho em Pernambuco Vanessa Patriota aplicou a pesquisa no estado. A constatação é de que a pandemia agravou a precariedade de trabalho da categoria, que precisa ter todos os direitos garantidos.
“O que falta é o reconhecimento do vínculo de emprego, que existe. O que falta é assinar a carteira. Esses trabalhadores estão subordinados às empresas, que ditam as regras, os procedimentos operacionais, que os avaliam por meio das notas dadas pelos clientes, que estipulam os preços de serviços. Eles trabalham continuamente, sem eventualidades, sete dias na semana, e é muito fácil verificar todas as condições de trabalho, porque está tudo na plataforma digital”, explicou a procuradora.
Solidariedade
Neste sábado (4), 500 entregadores por aplicativo foram beneficiados por uma ação solidária. Eles receberam cestas básicas.
Os alimentos foram doados pela Arquidiocese de Olinda e Recife e pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). As entregas ocorreram no Centro da capital pernambucana.
Coronavírus em Pernambuco
Pernambuco confirmou, neste sábado (4), 1.095 novos casos de coronavírus no estado. Com isso, há 63.457 pacientes com a Covid-19, desde o início da pandemia. Além disso, foram confirmadas 48 novas mortes de pessoas que tiveram a doença, totalizando 5.116 óbitos desde o dia 25 de março. Os números foram divulgados pela Secretaria Estadual de Saúde (SES) .
Fonte: G1