Entregadores de app ‘pagam para trabalhar’ com alta de combustíveis
- By : Assessoria de Comunicação do Deputado Gonzaga Patriota
- Category : Clipping
A recente alta no valor dos combustíveis afetou a rotina e o bolso de milhões de brasileiros em março, e tem prejudicado especialmente uma categoria de trabalhadores. Os entregadores de aplicativo, que atuam de nove a 12 horas diárias e seis dias por semana para obter uma renda média de R$ 1.172,63 mensais, agora se deparam com um cenário praticamente insustentável.
“Os motoboys já percebem que a classe paga para trabalhar”, relata Altemício Nascimento, de 54 anos.
Nascimento e outros profissionais que atuam sobre duas rodas contaram à reportagem do R7 como as condições dos motoboys, já em ritmo de precarização desde o início da pandemia, pioraram consideravelmente desde a última elevação nos preços da gasolina e do diesel.
Sob esse contexto os motofretistas convocaram atos nacionais nas principais capitais brasileiras, marcados para os dias 1º, 2 e 3 de abril, para demandar, sobretudo, o aumento nas taxas de entrega.
Em geral, o ganho bruto varia entre R$ 2.000 e R$ 3.000. Mas os gastos com o combustível — há quem desembolse mais de R$ 1.200 mensais só com gasolina —, e a manutenção dos veículos, entre outros investimentos, fazem o rendimento cair quase à metade no fim do mês.
Após o aumento agudo no valor cobrado nas bombas — desde o início de 2019, a gasolina subiu quatro vezes mais que o salário mínimo —, nenhuma opção parece satisfatória, como afirma Rafael Felix, membro de movimentos que estarão nas ruas no fim de semana:
“O aumento dos combustíveis implica não só nos ganhos dos entregadores, mas também na obrigatoriedade de mais horas de trabalho para poder complementar os gastos”.
Diante desse cenário, parte das plataformas anunciou reajustes nas taxas. Porém, ainda são vistos como insuficientes pela classe, que considerava as taxas baixas e demandava aumentos havia pelo menos dois anos, desde o início da pandemia.
Altemício Nascimento diz receber relatos de vários motofretistas que deixaram de rodar de terça a quinta-feira, quando a taxa é inferior às de fim de semana e segunda-feira, porque as despesas com o combustível estão muito altas, sem compensar os dias trabalhados. Outros, de fato, já abandonaram a atividade.
“O trabalhador põe isso tudo na ponta do lápis: teria que tirar um almoço, a janta, e ainda assim não faria dinheiro para ele. Os entregadores entendem que estão trabalhando exageradamente para os apps”, comenta.
Estamos com um seguimento mergulhado na precarização, onde os aplicativo não querem ter responsabilidade trabalhista com os trabalhadores, pagam o que querem, e fica uma situação difícil
GILBERTO ALMEIDA, PRESIDENTE DO SINDIMOTOSP
Edgar Francisco da Silva, conhecido como Gringo, presidente da Amabr (Associação dos Motofretistas de Aplicativos e Autônomos do Brasil), também pondera que os motoboys têm pago para trabalhar.
Além do rendimento, que não é alto, ter sido impactado pelas despesas (combustível e manutenção) de maneira expressiva, Gringo ressalta que os entregadores têm uma falsa sensação de ganho por não economizarem levando em consideração a depreciação das motos.
“Se o motoboy tira R$ 1.500 ou 1.600 por mês, ele pensa que está lucrando, com R$ 500 mais que o salário mínimo, e não considera que os equipamentos de trabalho e a motocicleta, que custou uns R$ 15 mil, saíram do bolso dele. E vai sair de novo quando tiver que trocar”, pondera.
Para o presidente da associação, o panorama descrito e a taxa que os motofretistas recebem tornam evidente que o recente reajuste dado por empresas como a iFood e a Rappi não está “nem perto do que precisam”.
Edgar Francisco da Silva, conhecido como Gringo, presidente da Amabr (Associação dos Motofretistas de Aplicativos e Autônomos do Brasil), também pondera que os motoboys têm pago para trabalhar.
Além do rendimento, que não é alto, ter sido impactado pelas despesas (combustível e manutenção) de maneira expressiva, Gringo ressalta que os entregadores têm uma falsa sensação de ganho por não economizarem levando em consideração a depreciação das motos.
“Se o motoboy tira R$ 1.500 ou 1.600 por mês, ele pensa que está lucrando, com R$ 500 mais que o salário mínimo, e não considera que os equipamentos de trabalho e a motocicleta, que custou uns R$ 15 mil, saíram do bolso dele. E vai sair de novo quando tiver que trocar”, pondera.
Para o presidente da associação, o panorama descrito e a taxa que os motofretistas recebem tornam evidente que o recente reajuste dado por empresas como a iFood e a Rappi não está “nem perto do que precisam”.
Apps não garantem padrões mínimos de trabalho, diz estudo
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Notas recebidas pelos apps no projeto Fairwork Brasil
REPRODUÇÃO/FAIRWORK BRASIL
As condições precárias enfrentadas pelos entregadores foram alvo do projeto ‘Fairwork Brasil 2021: Por trabalho decente na economia de plataformas’, vinculado à Universidade de Oxford. Divulgado em 17 de março, o estudo revelou que as principais empresas de aplicativo — iFood, Rappi, Loggi, Uber Eats, 99 e GetNinjas — não conseguiram comprovar padrões mínimos de trabalho decente em 2021.
A partir de entrevistas com os trabalhadores, a pesquisa definiu pontuações de 0 a 10 para cinco categorias: condições de trabalho, remuneração, contratos, gestão e representação. Nas notas gerais sobre a garantia dos direitos trabalhistas, Rappi, GetNinjas e Uber Eats receberam 0, a Uber foi avaliada com 1 e a iFood e a 99 tiveram 2 de pontuação.
Quanto às remunerações, em que foram considerados os valores recebidos, o custo dos equipamentos de trabalho e tempo de espera entre uma atividade e outra, apenas a 99 foi apontada por oferecer ao menos o salário mínimo local.
Somente a Uber e a 99 estiveram entre as empresas que oferecem condições justas de trabalho para proteger os trabalhadores dos riscos de cada tarefa, como com fornecimento de EPIs e apólices de seguro claras. A iFood foi a única citada em “representação justa” dos trabalhadores, e também por oferecer padrões básicos de contratos, com condições compreensíveis e acessíveis.
Acerca da gestão, com canais de comunicação eficazes, processos de apelação transparentes e políticas antidiscriminação, todas as empresas foram consideradas inaptas.
O relatório destaca que essas gigantes da tecnologia poderiam reduzir a desigualdade e o desemprego, mas que a pontuação registrada na pesquisa “fornece evidências de que os trabalhadores por plataformas [no Brasil], como em muitos países do mundo, enfrentam condições de trabalho injustas e sofrem sem proteções”.
Há duas décadas no ramo, Gringo descreve o contexto de insegurança em que se encontra a classe: a fim de garantir algum ganho, segundo ele, é comum que os entregadores deixem até de se alimentar para economizar, estendendo a jornada em uma profissão já precarizada.
Sem capacitação oferecida pelos aplicativos, explica ele, os trabalhadores se utilizam de um veículo danificado, em muitos casos, com peças falsificadas para poupar gastos. Ainda têm de acelerar nas corridas para garantir mais entregas que o habitual, em um expediente exaustivo, ultrapassando dez horas diárias.
“Aí, não tem outro caminho a não ser o acidente”, completa. Em São Paulo, a partir do início da pandemia — entre abril de 2020 e junho de 2021 —, período de aprofundamento da precarização na categoria, os acidentes envolvendo motocicletas subiram 45,5% e as mortes, 13,5%, segundo dados do Infosiga, sistema do governo estadual.
Outra pesquisa recente, realizada pela CUT (Central Única dos Trabalhadores) em parceria com a OIT (Organização Internacional do Trabalho) no Recife (PE) e em Brasília (DF), mostrou que a renda líquida mensal dos entregadores era de R$ 1.172,63, ou de R$ 5,03 por hora trabalhada.
A quantia representa menos da metade do valor bruto, que se dissipa entre gastos como combustível, aluguel, seguro, manutenção, plano de dados do celular e alimentação durante o trabalho. Do perfil dos entrevistados, a maioria era formada por homens (92%), jovens até 30 anos, pretos ou pardos (68%).
Fonte: DP