Mais de 90 bebês e crianças esperam vagas de UTI em Pernambuco; ‘situação é caótica’, diz médica
- By : Assessoria de Comunicação do Deputado Gonzaga Patriota
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O número de menores de idade que aguardavam vagas em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), nesta terça (17), chegou a 91, em Pernambuco. Uma lista enviada pelo governo ao Ministério Público (MPPE) apontou que havia 11 bebês e 80 crianças na fila. Desse total, 62 precisavam de leitos para pacientes com Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag) .
Aylla, de nove meses, recebeu ficha vermelha na emergência de uma unidade de saúde de Peixinhos, em Olinda. Com pneumonia e quadro considerado grave, passou dois dias esperando por um leito de UTI, até ser transferida, no domingo (15), para o Hospital Barão de Lucena, no Recife. Um dia depois, a menina foi levada para a Maternidade Brites de Albuquerque, em Olinda.
A mãe dela, a dona de casa Yngrid Conceição, de 24 anos, não conseguia conter as lágrimas ao falar sobre a situação da filha nas redes sociais.
“A gente está em estado de calamidade. Como é que não tem um leito de hospital? Vocês não sabem como é angustiante ver a sua filha em tal situação e sem conseguir fazer nada”, afirmou.
Por telefone, ela contou ao g1 que a menina agora está intubada, na UTI Neonatal da maternidade. “Está um caos total. A demanda é muito grande. Minha filha estava na senha vermelha e demorou três dias para chegar onde está hoje. E isso fez com que o quadro se agravasse”, afirmou.
Dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) mostraram que a espera dobrou na última semana. Em 8 de maio, eram 40 solicitações para leitos de UTI, sendo quatro para adultos e 36 para crianças. No domingo (15), chegou a 73 o número de solicitações, sendo três para adultos e 70 para crianças.
Lista de espera de UTI em 17 de maio de 2022
UTI Infantil SRAG | 58 |
UTI Infantil Clínica | 22 |
Total | 80 |
UTI Neonatal SRAG | 4 |
UTI Neonatal Neonatologia | 7 |
Total | 11 |
UTI Geral Adulto SRAG | 0 |
UTI Geral adulto outras | 47 |
Total | 47 |
Fonte: Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde da Capital
Uma médica que trabalha em seis unidades públicas de saúde do Recife e da Região Metropolitana relatou ao g1 que a situação é gravíssima e que chegou a ver o oxigênio ser retirado de uma criança menos grave para socorrer uma que teve uma crise convulsiva.
Por medo de represália, ela preferiu não ser identificada, mas afirmou que bebês e crianças chegam a passar quatro dias esperando por uma vaga em leito de UTI. Com um quadro de saúde grave, a demora, algumas vezes, é fatal.
“A situação é caótica. As crianças estão morrendo. No meu plantão, tinha uma bebê de dois meses que esperou quatro dias. No quarto, a gente conseguiu transferir, finalmente. Ela chegou ao Barão de Lucena, foi intubada e no dia seguinte faleceu”, lembrou.
Segundo a médica, há relatos de ao menos três óbitos em 15 dias. Além da bebê de dois meses, ela soube da morte de outros bebês de sete e de nove meses.
“Se a gente tem o Barão de Lucena e Imip [Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira] funcionando, com vaga, a gente tem outras possibilidades antes de tentar intubar. E a gente não está tendo isso”, afirmou.
A médica também disse que, por causa da situação, os plantões acabam ficando “fechados”. “Só atende quem chegar grave. Febre, coceira no corpo, diarreia, não atende. E a gente está tendo uma série de problemas com famílias, que não entendem que não existem vagas, ficam revoltadas”, contou.
A Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde da Capital informou, por nota, que acompanha diariamente a listagem da ocupação de UTI e que, diante do aumento da fila de espera, instaurou uma notícia de fato, na segunda (16).
Também na segunda, foi remetido ofício ao Secretário Estadual de Saúde, André Longo, para que fossem apresentadas, no prazo de 72 horas, “as razões para o expressivo aumento da fila de espera por leito de UTI infantil com Srag na rede estadual de saúde, nas últimas semanas, bem como as providências adotadas para a solução do problema”.
Por nota, a Secretaria Estadual de Saúde afirmou que Pernambuco vive atualmente seu período de sazonalidade das doenças respiratórias, quando, historicamente, há uma maior ocorrência.
A SES-PE reconheceu o aumento no fluxo de atendimentos pediátricos e disse que ele ocorre em toda a rede hospitalar, pública e privada.
A secretaria também explicou que predominam casos infecciosos, como vírus sincicial respiratório e rinovírus e que, nos leitos voltados para casos de Srag na rede pública, menos de 2% apresenta infecção pela Covid-19.
O governo informou que vem trabalhando para ampliar a rede e atende o público “de forma descentralizada e regionalizada”.
A SES também afirmou que mantém contato com entidades de classe e os serviços de referência e realizou uma reunião, nesta terça, para tratar da assistência pediátrica no estado, mas não informou o que foi definido no encontro.
A SES afirmou que, desde o ano passado, foram abertos mais de 30 leitos de UTI para este público e que, atualmente, a rede de saúde pública de Pernambuco conta com 233 vagas para bebês e crianças com quadros respiratórios.
São 106 de UTI e 127 de enfermaria. A ocupação geral destes leitos está em 72%, sendo 63% nas vagas de enfermaria e 87% nas de Terapia Intensiva.
Fonte: G1